De repente, a escola mudou de lugar

“De repente, não mais que de repente”, como escreveu o célebre poeta Vinicius de Moraes em seu Soneto de Separação, a escola mudou de lugar. A rotina escolar, conhecida por tradição durante anos e anos, extrapolou os muros das escolas e passou a acontecer nas telas dos smartphones, tablets, televisores e notebooks. As salas de aula, com suas carteiras enfileiradas e suas lousas, passaram a ter um novo formato: os ambientes virtuais de aprendizagem. E mais: dentro de nossas casas.
Longe da discussão sobre ser o formato ideal ou não, o fato é que a Educação não pode parar. É preciso promover, de algum modo, o contato de nossas crianças com seus professores, colegas e, ainda, com os conteúdos curriculares. Se por um lado já estamos sofrendo com a ruptura do convívio social, por outro, é importante minimizar as distâncias para o conhecimento e construir pontes para promover a aprendizagem neste momento excepcional em nossas vidas.
Nesse aspecto, o componente fundamental é a parceria. E esta, por sua vez, deve acontecer de forma harmônica entre a escola e a família, tendo ambas centradas num objetivo maior, para que possamos voltar (e temos de voltar) todos os nossos holofotes àqueles que realmente merecem toda a nossa atenção e os nossos cuidados neste momento: as crianças.
É fato que cada família dispõe de uma rotina diferente durante o enfrentamento da pandemia, já que em algumas casas, os familiares estão trabalhando remotamente e podem acompanhar mais de perto as atividades escolares propostas nesta fase. Em outras, há aqueles que continuam com suas rotinas de trabalho fora de seus lares e, portanto, há uma dificuldade natural evidente, por consequência de não conseguir acompanhar as crianças tão de perto nas novas rotinas escolares. Seja de uma forma ou outra, é possível, com algumas providências simples, estabelecer uma rotina escolar para os pequenos e auxiliá-los nesta jornada de ensino a distância. E como estabelecer essa rotina de estudo? Aqui vão 3 dicas para ajudar a organizar os estudos durante a quarentena:
1. Se possível, siga o cronograma de estudos determinado pela escola ou estabeleça horários para que eles aconteçam.
Para que a rotina de estudos seja efetiva e se consolide, é preciso organização. Esta é, sem dúvida, a medida mais importante. Uma dica é montar um quadro, de fácil acesso para a criança, contemplando as aulas e/ou atividades de cada dia com os respectivos horários. Lembre-se: da mesma forma que a organização das rotinas domésticas contribuem para a construção dos hábitos, também a determinação de uma rotina escolar contribui para construir o protagonismo e a autonomia do aluno. Monte essa rotina com o auxílio da criança, pois, desse modo, será mais fácil que ela entenda o que foi programado, os motivos e, assim, será automaticamente incentivada a participar e cumprir com o que foi estabelecido. Aproveite a oportunidade para aumentar a autonomia de seu filho e o ajude a compreender que ele também é protagonista na construção do conhecimento, seja na escola física ou na virtual.
2. Um lugar da casa apenas para os estudos é muito interessante.
Não são todos os lares que dispõem de um cômodo ou canto mais reservado. Se essa for a situação da sua casa, não há problemas. O importante é definir um lugar, um espaço fixo para que os momentos de estudo sejam sempre feitos ali. Vale a mesa da cozinha, da sala de jantar, uma escrivaninha e, até mesmo, o improviso. O fundamental é que tudo esteja organizado, com os materiais escolares por perto, sem que haja barulhos ou distrações em volta, para que a criança consiga se concentrar em suas atividades.
3. Pergunte e converse com a criança sobre os conteúdos e atividades que estão sendo abordados.
Ainda que você esteja trabalhando fora de casa durante a pandemia ou que não conheça o conteúdo que está sendo trabalhado com a criança, procure perguntar o que ela entendeu sobre a aula ou atividade, se tem dúvidas. O simples fato de demonstrar preocupação e cuidados já é o suficiente para amparar os pequenos e deixá-los mais seguros e confiantes. Nas dúvidas, se conseguir auxiliar a criança, muito bem. Caso não consiga, não se culpe e nem se martirize. Ninguém tem a obrigação de se tornar professor em plena pandemia. Diga à criança que também não compreendeu e que buscará ajuda. E busque mesmo! As escolas estão montando estruturas para acolher as dúvidas dos alunos e das famílias e, certamente, você deverá recorrer a elas sempre que for preciso.
Por fim, estamos vivendo um momento único e sabemos que todas essas mudanças frente à nova rotina escolar exigirão adaptação e esforços conjuntos de todos nós, educadores, familiares e alunos. Entretanto, em tempos de tanta incerteza como este que estamos vivenciando, há uma única verdade: se é fato que “a união faz a força”, também é certo que a desunião não nos conduzirá a lugar algum. Façamos, portanto, aquilo que podemos, nas condições que possuímos no momento. Qualquer iniciativa para ajudar, por menor que seja, é sempre mais vantajosa que a imobilidade.